21 de mai. de 2010

Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento


S. P: Quem sou eu?

B.H: O verdadeiro Eu ou Si não é o corpo, ou nenhum dos cinco sentidos, nem qualquer dos órgãos de ação, nem o prana (respiração ou força vital), nem a mente, nem mesmo o estado de profunda sonolência em que não se tem consciência de tais coisas.

S. P: Se não sou nada disso, que mais serei eu?

B.H: Após chegar a cada um destes itens e dizer “isto eu não sou”, aquilo que restar é o Eu, e isso é Consciência.

S. P: Qual é a natureza dessa Consciência?

B.H: É Sat-Chit-Ananda (Ser Consciência-Bem-aventurança) em que não existe o mais leve indício do pensamento-Eu. Chama-se também Mouna (Silêncio) ou Atma (Si). Isto é a única coisa que existe. Se a trindade mundo, ego e Deus for considerada como entidades separadas, tudo será mera ilusão como o aparecimento da prata na madrepérola. Deus, ego e mundo são na realidade Sivaswarupa (a forma de Xiva) ou Atmaswarupa (a forma do Espírito).

S. P: Como poderíamos nós compreender esse Real?

B.H: Quando as coisas vistas desaparecem, a verdadeira natureza daquele que vê, ou sujeito, aparece.

S. P: Não será possível compreender isso ao mesmo tempo em que ainda se vêem as coisas externas?

B.H: Não, porque o vedor e a coisa vista são como a corda e a aparência de serpente nela contida. Até que a gente se tenha livrado da aparência de serpente não poderá ver que aquilo que existe é apenas a corda.

S. P: Quando desaparecerão os objetos externos?

B.H: Se a mente, que é a causa de todos os pensamentos e atividades, desaparece, os objetos externos desaparecerão também.

S.P: Qual é a natureza da mente?

B.H: A mente é apenas pensamentos. É uma forma de energia. Manifesta-se como o mundo. Quando a mente mergulha no Si, então o Si é compreendido; quando a mente faz uma sortida o mundo aparece e o Si não é compreendido.

S. P: Como irá a mente desaparecer?

B.H: Apenas através da investigação “Quem sou eu!”. Embora tal investigação também seja uma operação mental, ela destrói todas as operações mentais, incluindo-se a si mesma, assim como o pau com que se remexe a pira funerária resulta ele próprio reduzido a cinzas depois que a pira e os cadáveres arderam. Só então vem a compreensão do Si. O pensamento do Eu é destruído, a respiração e os demais indícios de vitalidade diminuem. O ego e o prana (respiração ou força vital) tem uma fonte comum. Faça aquilo que fizer, faça-o sem egoísmo, isto é, sem o sentimento de “estou fazendo isto”. Quando um homem chega a tal estado até mesmo sua mulher lhe aparecerá como a Mãe Universal. A verdadeira Bhakti (Devoção) é a rendição do ego ao Eu.

S. P: Não há outros meios de destruir a mente?

B.H: Não há outro método adequado senão a Auto-investigação. Se a mente for sopitada por outros meios ficará quieta durante algum tempo e depois ressurgirá, reassumindo sua antiga atividade.

S. P: Mas quando serão todos os instintos e tendências (vasanas), como o de conservação, esmagado?

B.H: Quanto mais a gente se recolhe dentro do Si tanto mais tais tendências murcham, até finalmente desaparecerem.

S. P: Será mesmo possível eliminar essas tendências que encharcam nossas mentes através de tantas gerações sucessivas?

B.H: Jamais concedas lugar em tua mente a tais dúvidas, mas mergulha no Si com firme resolução. Se a mente for constantemente orientada no sentido do Si por essa investigação, ela será eventualmente dissolvida e transformada no Si.

Ao sentires alguma dúvida não busques elucidá-la mas antes procura saber quem aquela pessoa a quem a dúvida ocorre.

S. P: Durante quanto tempo se deve proceder a essa investigação?

B.H: Enquanto houver em tua mente o mais leve traço capaz de provocar pensamentos. Enquanto o inimigo estiver ocupando a cidadela não cessará de fazer sortidas. Se matares cada um que se apresentar, a cidadela por fim cairá em tuas mãos. Analogamente, cada vez que um pensamente erguer a cabeça esmaga-o com essa investigação. Esmagar todos os pensamentos no nascedouro chama-se vairajya (desapego). Assim, vichara (Auto-investigação) continua sendo
necessária até que o Si seja compreendido. O que se requer é uma contínua e ininterrupta lembrança do Eu.

S. P: Não é este mundo e o que ali acontece o resultado da vontade de Deus? Se é assim por que haveria Deus de desejar assim?

B.H: Deus não tem propósitos. Ele não está preso a qualquer ação. As atividades mundanas não podem afetá-lo. Toma por exemplo, a analogia do sol. O sol se ergue sem desejo, propósito ou esforço, mas, tão logo se ergue, numerosas atividades têm lugar na terra: a lente colocada sobre seus raios produz fogo, os botões de lótus se abrem, a água evapora e toda criatura viva entra em atividade, conserva-a e por fim a abandona. Mas o sol não se deixa afetar por tais atividades, pois simplesmente atua segundo a sua própria natureza, de acordo com leis fixas sem qualquer finalidade e não passa de uma testemunha. Assim também acontece com Deus. Deus não tem qualquer desejo ou propósito em seus atos de criação, manutenção, destruição, retirada e salvação a que os seres estão sujeitos. Á medida que os seres colhem os frutos de suas ações em obediência às Suas leis, a responsabilidade é deles e não de Deus. Deus não está preso a
quaisquer ações.

Ramana Maharshi e o caminho do auto-conhecimento