1 de jan. de 2009

Coração

Bhagavan:Concentrar a mente apenas no Eu Real resultará em Felicidade ou Bem-Aventurança. Voltar os pensamentos para o interior restringindo-os e evitando que eles se desviem para fora é chamado desapego (vairagya). Fixar a consciência no Eu Real é a prática espiritual (sadhana). Concentrar-se no Coração e concentrar-se no Eu Real são equivalentes – “Coração” é apenas um outro nome para o Eu Real.

G.V Subbaramiah: Está escrito em algum livro que para alcançar a Realização última a pessoa deve, mesmo depois de alcançar o sahasrara (chakra do lótus de mil pétalas localizado no topo da cabeça) retornar ao Coração, e que este se situa no lado direito do peito.

B:Não, não encontrei isso em livro algum. No entanto, em um livro Malayalam de medicina eu me deparei com um verso localizando o coração no lado direito do peito, e traduzi esse verso para o Tâmil no Suplemento aos Quarenta Versos.
Nós não sabemos nada a respeito dos outros centros. Nós não podemos ter certeza do que alcançamos ao nos concentrar neles e realizá-los. Mas o “eu” surge do coração e, para se alcançar a Auto-Realização, ele deve retornar ao coração. Seja como for, esta foi minha experiência.
Saiba que a Auto-Consciência pura e imutável do Coração é o Conhecimento que, através da destruição do ego, dá a Libertação.
O corpo é inerte como um boneco de barro. Como o corpo em si não tem consciência-“eu”, e como no sono, onde não há corpo, nos experimentamos diariamente a nossa existência natural [“eu sou”], o corpo não pode ser o “eu”. Quem é então, causa o sentimento de “eu”? Onde está ele? Na cavidade do Coração daqueles que assim investigam e que conhecem e permanecem como Eu Real, o Senhor Arunachala-Shiva brilha Ele mesmo com a Consciência “eu sou Aquilo”.

D:Bhagavan ensina que o coração é o centro do Eu Real?
B:Sim, é o centro supremo do Eu. Você não precisa desconfiar disso. O Eu Real está lá no coração por detrás do ego (eu falso).

D:O Bhagavan me faria o favor de dizer onde ele fica no corpo?
B:Ainda que eu lhe diga que fica aqui (aponta para o lado direito do peito) você não pode conhecê-lo com sua mente e nem representá-lo com sua imaginação. O único caminho direto de realizá-lo é parar de imaginar e apenas tentar ser você mesmo. Então automaticamente você sentirá que o centro é aí. É o centro que é mencionado nas escrituras como “cavidade do coração”.

D:Posso ter certeza de que os sábios antigos se referiam a este centro quando falavam “coração”?
B:Sim, você pode, mas você deveria se preocupar mais em experimentá-lo do que em localizá-lo. Um homem não precisa localizar o seus olhos para poder ver. O coração está lá, sempre aberto para você, se você quiser entrar; embora você não perceba, ele está sempre servindo de base a seus movimentos. Talvez seja mais correto dizer que o Eu Real é o Coração. Realmente, o Eu é o centro e ele está sempre consciente de Si mesmo como sendo o Coração ou Auto-Consciência.

D:Quando Bhagavan afirma que o Coração é o centro supremo do Espírito ou Eu Real, isso significa que ele não é um dos seis centros yóguicos (chakras)?
B:Os centros yóguicos, contados de baixo para cima, são uma série de centros no sistema nervoso. Eles representam vários níveis, cada um tendo a sua própria espécie de poder ou conhecimento indo até o sahasrara, o lótus de mil pétalas situado no cérebro que é o assento do Supremo Shakti (poder). Mas o Eu Real, que é a base de todo movimento de Shakti, não está lá, mais sim no centro coração.

D:Então é diferente da manifestação de Shakti?
B:Na verdade não existe nenhuma manifestação de Shakti além do Eu Real. O Eu se transformou em todos esses shaktis. Quando o Yogui alcança o mais alto estado de consciência espiritual (samadhi) é de fato o Eu Real no Coração que o sustenta neste estado, quer ele esteja consciente disso ou não. Porem, se sua consciência está centrada no Coração ele percebe isso qualquer que seja o centro ou estado em que ele esteja, e ele permanece sempre a mesma Verdade, o mesmo Coração, o Espírito onipresente, imutável e eterno: o Eu Real. O Tantra Sastra chama o coração de “Orbe Solar” (Surya Mandala) e o Sahasrara de “Orbe Lunar” (Chandra Mandala). Isso mostra a importância que cada um tem.


Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em Suas Próprias Palavras.
cap. Auto-Inquirição
págs. 153 a 155